[Amigos de Krishna] Reencarnação: Tudo o que Você Sempre Quis Perguntar
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Reencarnação: Tudo o que Você Sempre Quis Perguntar
Pavanesana Dasa
O que é reencarnação? O que determina meu nascimento? Tais coisas afetam quem não as conhece? Em que momento da gestação chega a alma no novo corpo? O sistema de karma é crueldade de Deus? E os animais? Quando isso acaba?
A palavra reencarnação está se tornando cada vez mais popular. Para a maioria das pessoas, soa como algo místico e exótico. Muitos, entre yogis, pensadores antigos e religiosos, promoveram essa ideia. Embora a crença em reencarnação seja rejeitada pela maioria das igrejas cristãs, pesquisas recentes mostram que muitos aceitam a reencarnação como um fato.
Apesar de sua popularidade, o conceito de reencarnação permanece um conceito vago para a maioria das pessoas, com pouca influência sobre a vida inclusive dos que acreditam nisso. A ideia comum de que reencarnação significa renascer como outra pessoa carece de clareza e favorece várias outras noções erradas sobre o assunto.
Não é possível entender o verdadeiro significado da reencarnação sem entendermos nossa identidade verdadeira e a diferença entre matéria e espírito. Nos ensinamentos referentes a esse ponto essencial, aprendemos que toda entidade viva é uma alma espiritual, distinta do seu corpo. A relação entre alma e corpo é similar à relação entre um motorista e seu carro. O carro é uma ferramenta para cumprir uma missão determinada pelo motorista. O motorista existe independente do carro, mas o carro, sem o motorista, é apenas um pedaço de metal inerte. Essa conclusão é a primeira compreensão da vida espiritual. A partir disso, podemos examinar o tema reencarnação. A seguir, discutiremos isso a partir das perguntas mais frequentes sobre o assunto.
Eu posso renascer como outra pessoa?
Isso depende do que você quer dizer com “eu”. O verdadeiro “eu” é a alma. Ela é a verdadeira pessoa, e ela jamais muda. A alma, sim, muda de corpos, no entanto, e porque a alma se identifica com esses corpos, ela parece se tornar, no sentido material, uma nova pessoa.
Como se determina qual será a minha próxima vida?
Você mesmo determina isso através do que você faz. Isso é claramente explicado na Bhagavad-gita (8.6): “Qualquer estado de existência de que alguém se lembre ao deixar seu corpo, ó filho de Kunti, esse estado ele alcançará impreterivelmente.”
O estado de consciência na hora da morte determina o próximo nascimento.
Aquilo de que você se lembra na hora da morte resulta das ações, dos pensamentos e dos desejos de toda a sua vida. Segundo a literatura védica, existem 8.400.000 espécies de vida, e você, a alma espiritual, tem que aceitar o corpo de uma espécie em particular de acordo com as atividades e os desejos de sua vida presente.
Mas eu não poderia ter um corpo de animal!
Por que não? A reencarnação não se limita às espécies humanas. A diferença entre um animal e um ser humano é apenas o corpo. Não existe diferença entre uma alma em um corpo humano e uma alma em um corpo de cachorro.
Segundo Darwin, corpos físicos evoluem, alguns até chegarem à forma humana. A literatura védica, porém, afirma que todas as formas de vida sempre existiram, e que a alma está migrando das formas inferiores de vida em direção às formas superiores até a forma humana.
Portanto, é a mesma alma que centenas de milhares de anos atrás viveu em corpos de répteis, peixes ou aves que está vivendo agora no corpo de um ser humano – você e eu.
Na plataforma corpórea, há pouquíssima diferença entre os animais e os seres humanos: Os animais comem e nós comemos, eles dormem e nós dormimos, eles se reproduzem e nós nos reproduzimos, eles se defendem e nós nos defendemos.
Se alguém se comporta como um cão ou porco, certamente pode obter o corpo de um desses animais em sua próxima vida.
Como exatamente a alma transmigra de um corpo para outro?
Existem três níveis de existência: a alma, o corpo sutil e o corpo grosseiro. O corpo sutil está dentro do corpo grosseiro, como uma mão dentro de uma luva. Na hora da morte, a alma e o corpo sutil (composto de mente, inteligência e falso ego) deixam o corpo grosseiro (composto de terra, água, fogo, ar e éter, ou espaço). Os elementos físicos que estavam temporariamente reunidos para compor o corpo grosseiro, então, se desmembram.
Depois de deixar o corpo, a alma, carregada pelo corpo sutil, entra em uma partícula de sêmen e, então, é alocada no ventre de sua próxima mãe.
Quando essa nova vida começa? Pergunto especificamente pela controvérsia do aborto.
Visto que, antes de tudo, a alma não morre, não há questão de “começo”. A vida é um contínuo. Mas, nesse caso, os Vedas explicam claramente que a “nova” vida, ou o desenvolvimento de uma nova cobertura física para a alma, começa na hora da concepção. É impossível matar a alma, mas, no mundo material, matar se refere a matar o corpo material. Nesse sentido, aborto em qualquer estágio é, sim, assassinato.
Renasço no mesmo ambiente onde morri na vida anterior?
Você pode nascer em qualquer planeta.
Mas não existe vida em outros planetas!
Isso pode ser o que ensinaram para você, mas considere isto: Você não pode viver na água, mas um peixe certamente pode. Você não pode viver no interior do solo, mas uma minhoca pode. Dizer que não existe vida em outros planetas porque nós não podemos viver lá é como dizer que não existe vida na água ou dentro do solo porque não podemos viver ali.
Os Vedas explicam que a vida existe em todo lugar – em todos os planetas, em todos os universos. Obviamente, quem vive em determinado planeta está adaptado para as condições dali. A natureza providencia o corpo apropriado.
Quantas vidas terei que reencarnar?
Isso depende de você. Você pode reencarnar por ciclos infindáveis – subindo e descendo neste mundo material – se você assim desejar. Mas a vida humana lhe dá a oportunidade de descontinuar essa situação problemática, se você quiser.
O que acontece quando alguém se torna um animal novamente?
A alma evolui gradualmente através de espécies cada vez mais elevadas até chegar na forma humana. Um animal não é responsável por suas atividades. Ele não pode se degradar e cair em corpos inferiores. Em outras palavras, se um animal mata você, ele não recebe a reação kármica de matar, porque é sua natureza. Em contraste, tão logo a alma alcança a forma humana de vida, torna-se responsável por todas as suas atividades. Ou seja, se você mata um tigre desnecessariamente, você receberá a reação kármica de matar. O ponto que quero dizer é que o ser humano pode se degradar através de suas ações, ao passo que o animal progride automaticamente.
Não é injusto responsabilizar um ser humano que desconhece a lei do karma?
É por isso que uma sociedade esclarecida ou educada tem que conhecer as leis de Deus. Completo conhecimento é dado à sociedade humana na forma das escrituras. Os Vedas se destinam a guiar o ser humano de modo que ele não viole as leis universais que governam cada um de nós.
Infelizmente, a sociedade humana de hoje está rejeitando todo o conhecimento espiritual e se envaidecendo com o dito avanço da ciência e tecnologia. Que tipo de progresso é esse que degrada as pessoas a uma existência animal em sua próxima vida?
Na sociedade védica, os líderes tinham a responsabilidade de se certificar de que as pessoas fossem instruídas na ciência espiritual. Contudo, os líderes modernos nem mesmo sabem que existe tal ciência. Portanto, o Movimento Hare Krishna, através da publicação de literatura védica, está enfatizando a educação espiritual.
As pessoas ignorantes da lei do karma são igualmente afetadas?
Ignorância não é desculpa. Por exemplo, quando uma criança toca no fogo, o fogo não pensará: “Ah! Essa criança não sabe que eu sou quente. Não a queimarei.” Não. O fogo queima – quer você esteja ciente de sua propriedade de queimar, quer não. Portanto, o que liberta do sofrimento é a educação espiritual, e não a ignorância.
Esse sistema parece cruel. Qual o sentido de um ciclo infindável de reencarnação?
Não. Não se trata de algo cruel. O sofrimento é um ímpeto para a entidade viva encontrar uma solução para os seus problemas. O mundo material é um lugar de sofrimento. “Partindo do planeta mais elevado no mundo material e indo até o mais baixo, todos são lugares de sofrimento, onde acontecem repetidos nascimentos e mortes. Mas quem alcança a Minha morada, ó filho de Kunti, jamais volta a nascer.”(Bhagavad-gita 8.16)
Esse verso explica que o mundo material é, por natureza, um lugar desagradável. Mesmo se houver felicidade, é temporária: não durará. E nós causamos o nosso próprio sofrimento. Muitas pessoas costumam culpar Deus por seu sofrimento, mas Deus quer que retornemos para o mundo espiritual, onde não existe sofrimento nenhum.
Este mundo material não é a nossa casa. Nossa situação é como a de um peixe fora d’água. Você pode dar a um peixe um televisor, um carro importado e uma mansão, mas tudo de que um peixe necessita é água. Ele não se interessa por todas as facilidades na superfície seca. Da mesma forma, a felicidade temporária no mundo jamais irá nos satisfazer. O sofrimento proporciona a motivação para alcançar a meta da vida – voltar ao Supremo.
Se alguém está desfrutando de felicidade material, geralmente não vê nenhuma razão para se voltar a Deus. Infelizmente, não sabe que seu desfrute não tem como durar. Quando os resultados de suas atividades piedosas se exaurirem, o sofrimento retornará, embora ele não queira isso. Verdadeiro desfrute não pode ser obtido por meio dos sentidos materiais, mas somente através de um caminho espiritual.
Quando termina o ciclo de reencarnações?
O corpo humano é a única forma de vida que nos permite findar esse ciclo. Apenas nesta forma a consciência está desenvolvida o bastante para entender a diferença entre matéria e espírito. Animais não podem entender isso. A única ocupação deles é comer, dormir, acasalar-se e defender-se. Não são capazes de compreender qual é a meta da vida.
Contudo, se o ser humano não tira proveito desta oportunidade e simplesmente se dedica a maneiras sofisticadas de comer, dormir, acasalar-se e defender-se, ele não é nada mais do que um animal sofisticado. O único propósito da vida humana é desenvolvermos nossa consciência de Deus original, rompermos o ciclo de nascimentos e mortes, e voltar ao lar, voltar ao Supremo.
O processo para se conseguir isso se chama bhakti-yoga, ou serviço devocional, que envolve ter uma conduta espiritual de acordo com as injunções das escrituras védicas e do mestre espiritual fidedigno. Fazendo isso, a pessoa não estará mais atada às leis da natureza material que a forçavam a transmigrar pelo mundo material.
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segunda-feira, 29 de julho de 2019
sexta-feira, 12 de julho de 2019
[Amigos de Krishna] O Caminho para a Irmandade Universal
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qua, 10 de jul 15:45 (há 2 dias)
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O Caminho para a Irmandade Universal
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Alcançado o nível de compreensão espiritual, podemos ver a unidade entre todos.
Nós naturalmente nos preocupamos com nossos parentes, e não queremos que se machuquem. Mas quem é realmente nosso parente? Em um sentido superior, parente não significa apenas meu irmão, minha irmã, meu pai ou meu tio. No sentido mais amplo, significa todas as entidades vivas, pois, originalmente, todas as entidades vivas são partes integrantes de Deus e se relacionam com Ele assim como os filhos se relacionam com o pai. Todos nós, portanto, somos irmãos.
Por exemplo, se você é afetuoso com seu pai, você naturalmente também se torna afetuoso com seu irmão. Algumas pessoas estão propondo a irmandade universal, mas quando perguntamos: “Prezado, onde está o pai?”, eles dizem: “Ah! Não tem pai.” Onde, então, está a possibilidade de irmandade? Se você não identifica quem é seu pai, como selecionará seu irmão? Essas propostas são imperfeitas. Se você quer de fato fazer algo por seu irmão dentro da irmandade universal, você deve, antes de qualquer outra coisa, estabelecer sua relação com o pai do qual você se perdeu.
Krishna, Deus, declara na Bhagavad-gita (14.4):
sarva-yonisu kaunteya
murtayah sambhavanti yah
tasam brahma mahad yonir
aham bija-pradah pita
murtayah sambhavanti yah
tasam brahma mahad yonir
aham bija-pradah pita
“Deve-se entender que todas as espécies de vida, ó filho de Kunti, são possibilitadas pelo nascimento nesta natureza material, e que Eu sou o pai que dá a semente.”
Os cristãos também consideram Deus como o pai supremo. Os cristãos vão à igreja e rezam: “Pai nosso que estais no céu.” Qualquer sistema religioso de boa qualidade afirma isto: “Deus é o pai original.” Esse é o fato. Se Krishna é o pai supremo, Ele é o pai de todos, em todas as espécies de vida, em todas as formas de vida, e todos são nossos parentes. Como poderia ser de outra forma se Krishna é o pai original? Isso é a consciência de Krishna, que leva um devoto a nunca querer cometer nenhuma violência contra qualquer entidade viva.
As diferentes formas das entidades vivas são apenas como suas roupas externas, mas, na verdade, todo ser vivo é uma alma espiritual, uma parte integrante de Deus. Assim, não é apropriado favorecer apenas um tipo de entidade viva. Como o Senhor diz na Bhagavad-gita(5.18):
vidya-vinaya-sampanne
brahmane gavi hastini
suni caiva svapake ca
panditah sama-darsinah
“O sábio humilde, em virtude do conhecimento verdadeiro, vê com visão equânime um brahmana erudito e cortês, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor de cachorros [pária].”
Assim, o sujeito erudito não olha para as roupas que cobrem externamente a entidade viva, mas vê a alma pura dentro das variedades de roupas e sabe muito bem que as variedades de roupas são uma criação da ignorância.
Sama-darsinah significa “visão igual”. Superficialmente, no âmbito externo, há muita diferença: um brahmana erudito é o homem mais inteligente na sociedade humana, e o outro é um cachorro. Contudo, quem é pandita, quem é consciente de Krishna, vê que são iguais, pois são a mesma centelha espiritual. Pelo karma de cada um, um deles se tornou um erudito, e o outro se tornou um cachorro, mas, dentro dos diferentes corpos (dehino 'smin yatha dehe), está a alma. Essa é a visão.
Krishna também tem visão equânime. Nas pinturas, vemos Krishna abraçando um bezerro. Ele não abraça apenas as gopis [vaqueirinhas], mas está abraçando os bezerros também, bem como as vacas. Para Krishna, as gopis, os bezerros e as vacas, ou qualquer um em Vrindavana que veio servi-lO, são todos iguais. Ele não faz este tipo de discriminação: “Aqui está uma gopi, uma mocinha bonita. Ela, então, vou amar mais do que eu amo o bezerro.” Não. E os devotos de Krishna procedem da mesma maneira, pois a consciência de Krishna significa que o devoto tem a mesma qualidade de Krishna em grau diminuto. É por isso que o devoto também é igual para com todos, considerando todos como membros da mesma família.
Naturalmente, no tocante à externalidade, não me comportarei da mesma forma como um brahmana e um cachorro. Isso é o comportamento externo. Internamente, no entanto, devemos saber que tanto o brahmana quanto o cachorro são centelhas espirituais. Isso se chama brahma-jnana, “conhecimento do eu espiritual.”
brahma-bhutah prasannatma
na socati na kanksati
samah sarvesu bhutesu
mad-bhaktim labhate param
“Quem está situado na transcendência de imediato compreende o Brahman Supremo e se torna completamente jubiloso. Ele jamais se lamenta ou deseja ter algo, e ele tem igual disposição para com toda entidade viva. Nesse estado, ele alcança o serviço devocional puro a Mim.” (Bhagavad-gita 5.18) Um vaishnava, desta maneira, é realmente uma pessoa perfeita, porque ele se lamenta quando vê outros infelizes e sente alegria quando vê outros alegres.
Nós somos a força viva, a alma, mas estarmos nos identificando, no momento presente, com o corpo material. Isso é insanidade. Todos estão pensando: “Sou japonês”, “sou inglês”, “sou alemão”, “sou indiano”, “sou branco”, “sou negro”, “sou homem”, “sou mulher” e assim por diante. Mas tudo isso é insanidade, o que deve ser curado com este entendimento: “Não sou o corpo. Sou alma espiritual.” Isso é verdadeiro conhecimento. Então, é possível entender este ponto: “Todas as entidades vivas são almas também, tão importantes quanto eu. Todos são meus irmãos.” Isso se chama irmandade universal, na plataforma espiritual.
Na plataforma material, tal coisa não é possível, porque a plataforma material é sinônimo de ignorância. O sujeito não sabe quem ele é. Porém, quando você chega à plataforma espiritual, você pode entender. Portanto, se queremos realmente igualdade, fraternidade, amizade, amor e perfeição, temos que nos tornar conscientes de Krishna.
A consciência de Krishna é uma grande ciência. Infelizmente, não há um departamento nas universidades para esta ciência. Por isso, convidamos todos os homens sérios que estejam interessados no bem-estar da sociedade humana a entenderem este grande movimento e, se possível, participarem dele e cooperarem conosco. Os problemas do mundo serão resolvidos.
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sexta-feira, 7 de junho de 2019
[Amigos de Krishna] Bhagavan: A Pessoa de Deus
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Bhagavan: A Pessoa de Deus
Adi Purusha Dasa
A tradição de bhakti reconhece tanto o aspecto pessoal quanto impessoal da Verdade Absoluta, mas valoriza um deles como mais desejável do que o outro.
Há centenas de anos, filósofos e teólogos debatem em relação a se Deus é, em última instância, pessoal ou impessoal. Afinal, a natureza de Deus exerce um papel central em nosso destino. Se Deus é uma pessoa, então temos o potencial para uma relação amorosa eterna com Ele. Por outro lado, se Deus não é uma pessoa, mas, em vez disso, é impessoal, como uma luz na qual nos fundimos, então não temos a oportunidade de um relacionamento eterno.
A Natureza de Deus
Para Deus ser completo, Ele tem que ter tanto o aspecto pessoal quanto o aspecto impessoal. Se Deus fosse apenas pessoal ou apenas impessoal, não seria completo, porque careceria de algo. A tradição de bhakti reconhece que Deus tem um aspecto impessoal, um aspecto pessoal e até mesmo um aspecto “localizado”, isto é, uma forma dentro do coração. O Srimad-Bhagavatam (1.2.11), um importante texto de bhakti, afirma:
vadanti tat tattva-vidas
tattvam yaj jnanam advayam brahmeti paramatmeti bhagavan iti shabdyate
“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não dual de Brahman, Paramatma ou Bhagavan.” Brahman é o aspecto impessoal de Deus. É como uma luz branca em que o indivíduo pode se fundir caso assim deseje. Paramatma é o aspecto localizado de Deus, também chamado de Superalma. Como a Superalma, Deus está no coração de toda entidade viva, testemunhando e sancionando as ações da entidade viva. Ele também guia aqueles desejos de ouvi-lO, o que pode explicar o porquê de algumas pessoas sentirem que de fato têm experiências reais de Deus Se comunicando com elas a partir de dentro.
Por fim, há Bhagavan, o aspecto pessoal de Deus, que se pode dizer que é Seu aspecto original. Embora a Superalma seja pessoal, Bhagavan é o aspecto pessoal de Deus que quem realizou o aspecto Bhagavan pode ver face a face e interagir de maneira íntima. Bhakti-yogis focam-se em Bhagavan porque podem experimentar imenso êxtase por participarem de Seus passatempos, que Deus realiza para regozijar Seus devotos.
No aspecto impessoal, não há amor e afeição. Se nos fundimos na existência de Deus e perdemos a nossa individualidade, não podemos ter uma relação amorosa com Ele. É preciso duas pessoas para existir um relacionamento amoroso, e a aniquilação de nossa identidade impossibilita qualquer relação.
Quando Deus Vem a Este Mundo
Periodicamente, Deus vem a este mundo para fazer atos e passatempos maravilhosos. Os textos da tradição de bhakti estão repletos de histórias de como Deus age quando vem a este mundo em Seu aspecto pessoal. De acordo com a tradição de bhakti, Deus não é um Deus deísta. No deísmo, Deus cria o mundo, mas, então, Se distancia dele e escolhe não Se envolver. De acordo com a tradição de bhakti, entretanto, Deus não é desconectado do nosso mundo, senão que, ao contrário, vem em vários adventos para agradar Seus devotos e nos atrair para Ele por meio de Suas diferentes atividades. Ele também enfrenta o mal, salva Seus devotos e restabelece a justiça no mundo.
Quando Deus vem a este mundo, Ele algumas vezes nos instrui de modo que possamos ir embora com Ele. Quando veio em Sua forma original como Krishna, Arjuna fez esta pergunta significativa ao nosso tema: “Quais são considerados os mais perfeitos, aqueles que sempre se ocupam devidamente em Teu serviço devocional, ou aqueles que adoram o Brahman impessoal, o imanifesto?” (Bhagavad-gita 12.1) Krishna respondeu: “Aqueles que fixam sua mente em Minha forma pessoal e que estão sempre ocupados em Me adorar com grande fé transcendental, são considerados por Mim como os mais perfeitos.” (Bhagavad-gita 12.2) Assim, Krishna dispersa quaisquer dúvidas ou temores que possamos ter em relação a seguir o caminho do personalismo.
Contudo, aqueles acostumados ao modo de adoração impessoal talvez pensem que o Brahman impessoal é a fonte de Deus e que devemos, portanto, nos focar no aspecto impessoal de Deus. Para esclarecer o assunto, porém, Krishna afirma mais adiante, brahmano hi pratishthaham: “Eu sou a base do Brahman impessoal.” (Bhagavad-gita 14.27). Portanto, o aspecto impessoal de Deus, Brahman, vem de Krishna, e não o contrário.
O que Deus mais gosta de fazer quando vem a este mundo é ter relações de amor com Seus devotos. Quando Krishna está com Seus amigos, experimentam trocas muito doces e amorosas. Com Seus colegas vaqueirinhos, Ele brinca de esconder, imita o som dos animais locais, faz música, dança, come e Se entrega a todo tipo de diversões. Deus não quer simplesmente Se sentar em um trono e ficar julgando as pessoas; Ele quer Se divertir, e Ele quer que nós participemos.
Além disso, Deus Se agrada de até mesmo servir Seus devotos. Arjuna tinha que lutar em uma grande batalha, e, por afeição a Arjuna, Krishna concordou em Se tornar seu quadrigário. Como Deus, Krishna não tinha nenhuma necessidade de assumir esse humilde papel. Ele poderia ter acabado com todo o exército em um piscar de olhos. Contudo, porque Krishna tem tanto amor por Arjuna, decidiu se tornar o quadrigário de Arjuna e assim servi-lo.
Os Benefícios do Personalismo
Ainda assim, apesar da natureza doce do aspecto pessoal de Deus, o aspecto impessoal pode ter seu apelo. Nós, algumas vezes, podemos nos sentir frustrados com a variedade material, então concluímos que variedade de qualquer tipo leva à infelicidade e que o caminho para a verdadeira felicidade é parar toda atividade. Assim, podemos concluir que a felicidade última é nos fundirmos no aspecto impessoal de Deus. Mas isso realmente parece felicidade de verdade?
Imagine que você tivesse que parar todas as suas atividades e simplesmente se sentar em uma sala fazendo nada. Você ficaria feliz? Provavelmente não. Você ficaria muito mais feliz caso estivesse com alguém que você ama. Uma pessoa no caminho do impersonalismo pode ser capaz de escapar do sofrimento, mas perde a oportunidade de sentir uma felicidade muito maior na experiência de uma relação amorosa com Deus. O personalismo nos dá a oportunidade de compartilhar nossa alegria com Deus e com Seus devotos. Em contraste, o impersonalismo é como uma solitária.
Em bhakti-yoga, estabelecemos nossa relação amorosa com o Senhor Supremo mediante uma variedade de atividades espirituais, como ouvir sobre Ele, cantar Seus nomes, dançar para o Seu prazer e até mesmo fazer jardinagem ou negócios para Ele. Muitos caminhos espirituais dizem que nosso sofrimento é causado por atividades materiais, mas, como mencionado antes, parar todas as atividades, como alguém pode fazer no caminho impessoal, é tedioso. O personalismo oferece uma solução perfeita porque nos providencia a oportunidade de realizarmos atividades espirituais, as quais são plenas de variedade. E, como sabemos, variedade é a mãe do prazer. Além disso, diferente das atividades materiais, as atividades espirituais não nos frustram.
Na Bhagavad-gita (2.62), Krishna explica por que as atividades materiais são frustrantes:
dhyayato vishayan pumsah
sangas teshupajayate sangat sanjayate kamah kamat krodho 'bhijayate
“Enquanto contempla os objetos dos sentidos, a pessoa desenvolve apego por eles, e de tal apego, se desenvolve a luxúria, e da luxúria surge a ira.” Quando realizamos atividades materiais, nos sentimos frustrados quando não conseguimos o que desejamos. Ou se conseguimos o que desejamos, mas não corresponde às nossas expectativas, também nos sentimos frustrados. É como quando um garotinho vê um sorvete de casquinha. Ele começa a desejar isso com cada vez maior intensidade, mas, se sua mãe diz que ele não pode comer, ele se frustra. Mas mesmo se ele consegue o sorvete, talvez não seja tão gostoso quanto esperava, ou não seja tanto quanto ele queria, ou deixe um mal-estar depois de comido. Por fim, ele estará frustrado de qualquer maneira, pois o mero prazer corpóreo não pode satisfazer a alma.
Quando agimos para dar prazer a Deus, e não a nós mesmos, não experimentamos o desejo insatisfeito. De fato, quando agimos para o prazer de Deus, sentimos mais alegria do que se tivéssemos tentado agir para nosso próprio gozo. E então encontramos cada vez menos felicidade nas atividades materiais. Tomemos novamente o sorvete como exemplo. É gostoso, mas, depois de certo ponto, ficamos saturados. As atividades espirituais são diferentes. Quanto mais você as faz, mais ficam saborosas.
A Reciprocidade do Senhor
Outro ponto alto do personalismo é que o Senhor reciproca nosso amor por Ele e nos ama em um grau infinito. Todos nós estamos buscando por amor, e Deus pode satisfaz completamente nosso desejo de amar e ser amado. Uma história entre Chaitanya Mahaprabhu, que é o próprio Krishna, e Seu devoto Sanatana Gosvami ilustra o quanto Deus nos ama. Sanatana Gosvami, certa vez, sofria de coceira, com feridas secretando pus por todo o seu corpo. Contudo, o Senhor Chaitanya tinha tanto amor por Seu devoto que O abraçou, e Sanatana Gosvami foi curado de sua condição.
Esse incidente chama atenção para uma das qualidades do Senhor: Ele nos ama incondicionalmente, apesar de nossas imperfeições ou defeitos. Nosso namorado, namorada, amigos, animais de estimação e assim por diante podem nos deixar a qualquer momento. Em contraste, mesmo em nossas horas mais difíceis, podemos contar que Krishna estará ali conosco, pronto para nos abraçar. Além disso, o Senhor também pode preservar tudo que temos e trazer o que nos falta. Assim, por nos refugiarmos em Deus, podemos superar qualquer dificuldade que nos confronte.
Outra história envolvendo o Senhor Chaitanya demonstra o amor de Deus por Seus devotos. Quando o grande devoto Haridasa Thakura morreu, o Senhor Chaitanya carregou seu corpo para o mar, realizou a cerimônia fúnebre e cobriu de areia o seu corpo dentro da tumba.
O Senhor Chaitanya carrega o corpo de Haridasa para o mar.
Sendo Deus, o Senhor Chaitanya não tinha de fazer nada disso; Ele poderia ter delegado o afazer a outra pessoa. Contudo, movido por amor e afeição por Seu devoto, fez esse serviço a Haridasa Thakura.
A Bem-aventurança de Bhakti-yoga
Ademais, todo o processo de bhakti-yoga é muito bem-aventurado. Podemos ter um vislumbre disso através da história de Dhruva. Dhruva foi um menino cujo pai era um rei com duas esposas. Infelizmente para Dhruva, sua mãe era a esposa que o rei estimava menos. Um dia, quando Dhruva tentou se sentar no colo de seu pai, sua madrasta o impediu. Ela disse a Dhruva que, se ele queria se sentar no colo de seu pai, teria que adorar a Deus e nascer do ventre dela.
Desapontado, Dhruva contou à sua mãe o que acontecera. Ela tentou consolá-lo, e ela também disse que adorar o Senhor seria a única maneira pela qual ele poderia se sentar no colo do pai. Dhruva, então, partiu para a floresta determinado a adorar o Senhor, não apenas para poder se sentar no colo do pai, mas também para ganhar um reino muitíssimo maior do que o de seu pai. No caminho, Dhruva se encontrou com o sábio Narada, que lhe deu um mantra para meditar. Entoando esse mantra, Dhruva, por fim, viu Deus face a face.
Depois de ver Deus (Krishna em Sua forma de Vishnu), Dhruva ficou em êxtase. Ele sentiu tamanha bem-aventurança que se condenou por ter buscado Deus querendo benefícios materiais. Ele considerou a bem-aventurança de ver Deus como muito maior do que qualquer opulência material. Ele disse que saiu em busca de alguns cacos de vidro e, em vez disso, encontrou um diamante. Em conclusão, muito embora possamos obter grande alegria com a riqueza material, o júbilo de amar a Deus faz com que essa felicidade pareça tão insignificante quanto vidro quebrado.
Dhruva encontra-se com o Senhor Supremo.
Essa intensa bem-aventurança nos está disponível mediante a prática de bhakti-yoga, começando com ouvir e cantar os nomes de Deus, como no maha-mantra: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Entoar esse mantra revive o amor dormente por Deus que há em nós. Assim, por abordarmos o aspecto pessoal de Deus, podemos sentir níveis crescentes de bem-aventurança e experimentar o amor pelo qual todos nós estamos buscando.
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